sábado, 23 de julho de 2011

Animações para adultos 3

Animações para adultos 3



O que você queria ser quando crescesse? Muito desse sonho deve ter sido perdido, esquecido ou suprimido no caminho para a maturidade. No fantástico mundo da animação, porém, todos os seus desejos de criança e, principalmente, de adulto podem ser recuperados. Mas seus piores pesadelos também podem vir à tona... Situações absurdas, fantasias secretas, temores recalcados, encontros inimagináveis, complexas elucubrações e discussões impossíveis na vida real. A liberdade da animação se expressa aqui em suas mais variadas técnicas, em sete filmes de diretores de animação consagrados. 

Cineclube Budega - apresenta: Sessão Curta 

Tempo total aproximado do programa: 88 minutos.

Crítica

Caminhos diversos
Gustavo Galvão*

As possibilidades do cinema de animação são infinitas. E não se trata de uma questão técnica – por mais que o gênero englobe inúmeras vertentes. Trata-se de uma questão de abordagem. Não há restrições criativas na animação, que carrega em sua essência o princípio da flexibilidade. Uma amostra disso é o programa “Animação para adultos 3”.
São oito curtas bem diferentes entre si. O mais antigo é de 1988: A garota das telas (Cao Hamburger). Os mais recentes são de 2006: Yansan (Carlos Eduardo Nogueira) e Tyger (Guilherme Marcondes). Nesse meio tempo foi deflagrada a era da computação gráfica, um diferencial entre as duas gerações. No entanto, é importante notar que os três filmes citados trabalham no mesmo nível – o do onírico. Se há diferenças entre eles, isso se deve à motivação e à inventividade de cada diretor. A técnica é um acessório.
É verdade que Cao Hamburger trabalha com um tema bastante explorado, o fascínio que o cinema exerce no inconsciente coletivo. O curioso na proposta de A garota das telas é o cruzamento promovido entre a linguagem audiovisual e os sonhos. Talvez a fascinação venha da afinidade entre os códigos de ambos. Numa leitura superficial da trama, o sono leva o zelador de um estúdio a percorrer a história do cinema, partindo do faroeste e chegando aos musicais; uma análise detalhada permite outra leitura: os sonhos do protagonista apontam as conexões entre ordinário e extraordinário.
Tyger e Yansan são dois exemplos bem acabados de que o cinema de animação não só tem vocação para o extraordinário como pode atingi-lo de formas diversas. Ambos se servem de referências sólidas para cumprirem os objetivos. Em Tyger, a base é um poema de William Blake, cujo misticismo se traduz em cenas desconcertantes. O caos urbano e seu peso nas relações são focados de modo que transcende obviedades. Já Yansan promove a união insólita entre candomblé e cultura pop japonesa. Ao recriar o amor trágico entre Iansã e Xangô, o filme reinventa o estilo mangá por tabela.
Se em Tyger a combinação de efeitos gráficos com imagens captadas em vídeo tem um quê de sofisticação, Cláudio de Oliveira, em O bloqueio, investe na crueza visual e no desenho de som, dois aspectos imprescindíveis nessa versão do claustrofóbico conto de Murilo Rubião. Por sua vez, o registro adotado por Helena Lustosa em Mademoiselle Cinema é o poético, que se reflete no desenvolvimento sutil da narrativa.
Todos os filmes acima têm em comum a ênfase nos valores pictóricos e sonoros, que dispensam diálogos. Em Terminal, a ausência de falas reforça a falta de humanidade de uma história que alterna o teor surrealista com elementos que beiram o realismo. Nele, o realizador Leonardo Cadaval balanceia correntes opostas com uma estética contundente. 
Se tudo isso parece sério demais, uma trinca de animadores oferece o antídoto ideal. Oito anos antes de Almas em chamas (que integra o programa 93, “Animações para adultos 2”), Arnaldo Galvão exercitava o humor debochado em Disque N Para Nascer. Deboche é a palavra precisa para definir Novela, no qual Otto Guerra faz um apanhado demolidor dos clichês que impregnam a teledramaturgia brasileira. E Marão assume a parcela de comédia absurda, indispensável em qualquer coletânea do tipo, com O arroz nunca acaba.

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