O Budega


História do Budega 
(por Maurossés Franco)



   José Franco Sobrinho, “O Budega”, como era conhecido, nasceu em Ubaporanga, Minas Gerais, e aqui viveu aproximadamente por 65 anos.

   Budega ou Budego era apelido que seu pai lhe colocou, que significa: "Alguma coisa que não presta". O Budega era diferente de todos os seus irmãos, nasceu para ser livre e não aceitava ser dominado pelos seus pais. Trabalhava só naquilo que queria, tinha por profissão vender pães, que carregava em uma enorme cesta pelas ruas de “São Domingos”. Era cinco horas, o dia mal começava a clarear, e o Budega já estava na rua, com a enorme cesta na cabeça, pés descalços, gritando aos quatro cantos, que o pão estava quentinho. Muitas crianças acordavam ao som de “Olha o padeiro! Olha o Padeiro!”

   Este era um trabalho como outro qualquer, mas também era uma prestação de serviço. Ele era um divisor do acordar e levantar, e comodidade para os moradores de Ubaporanga. Porém, o que o Budega mais gostava de fazer era anunciar os filmes em cartaz no Cinema Local, que ficava na esquina da Avenida Marques Pereira com a Avenida Padre Rino. Na verdade o Budega sem seu CONE FALANTE, não era ninguém...

“Atenção! Muita atenção! Hoje tem cinema! Hoje tem cinema! Os homens pagam e as mulheres também! Às seis horas da noite! Sô Virgílio manda avisar! Levar a cadeira e não atirar na tela! Venham assistir o grande faroeste ‘Cavalo Negro’. Atenção! O filme é novinho, não percam!...

   Era o Budega anunciando e a criançada seguindo logo atrás, pelas ruas do povoado, 2 meninos levavam a propaganda do filme que estava em cartaz e o resto da meninada atrás:


“Hoje tem cinema? Tem sim senhor!”

“Lá no cinema do Zizi Bonfim? Tem sim senhor!” 

   E quem não gritasse bem alto, era dispensado do coral formado pela criançada e perdia o direito de ganhar um ingresso. Agora imaginem como eram afiados os gogós da meninada. O Budega era uma pessoa simples, amado por muitas crianças e odiado por outras, mas também, não faltava mãe para amedrontar seus filhos dizendo para eles que ia chamar o Budega. Mas ele não tinha inimizades, era realmente amigo de todo mundo e acreditamos que o Budega foi útil. Com a decadência do cinema, restou ao Budega apenas fazer anúncios fúnebres pelas ruas da cidade:

   “Atenção! O Sô Antônio faleceu ontem. A sua mulher convida para o enterro. Ela mora na rua do sapo perto da casa do Joaquim dasCouves! (naquela época as casas não tinham numeração) Atenção! O enterro será ás duas horas da tarde no cemitério”... 


   E o anúncio não custava um só centavo para a família enlutada. Realmente o Budega era um bom homem de bom coração e o cinema era a sua grande paixão. 



“Hoje tem cinema? Tem sim senhor!”

“Lá no Cine do Budega? Tem sim senhor!”